POV Meredith Ivashkov
Algo me dizia que minha estada na Corte Real não seria nada fácil, apenas aquele breve encontro com a minha protegida e a Rainha me provaram isso. Eu teria que ser muito cuidadosa com meus atos, para assim preservar a reputação que... tenho. Afinal nem posso dizer que a minha reputação foi construída com o passar dos anos, tenho apenas 20 anos, sou quase uma recém formada dampira. Minha reputação me persegue desde os meus 14 anos, onde participei, contra a minha vontade, de um pequeno incidente com um bando de Strigois, que por milagre eu sai sem muitas sequelas.
Assim que saí do salão, após minha pequena reunião com a Rainha, um dos guardiões veio ao meu encontro e se ofereceu para me mostrar o local. Conheci brevemente a Corte, já que o lugar era muito grande, parecia uma mine cidade, lojas, cafés, academias de ginástica, prédios para visitantes, dormitórios, alas reais e alas dampiras, até um Spa tinha.
Depois desse breve reconhecimento do local onde eu moraria por tempo indeterminado, retornei ao meu aposento. Dei uma boa olhada no quarto que me deram, era grande e espaçoso, muito bem arejado também, e eu tinha um banheiro só meu. Isso era algo bom, mas não me deixei impressionar muito, afinal eu estava na Corte Real Moroi.
O guardião Castile além de me mostrar e me informar sobre o enorme terreno da Corte, também me deixou a par de algumas regras e das rotinas dos guardiões reais. Era nisso que eu estava pensando enquanto estava sentada em cima de minha cama, analisando a ficha técnica da Princesa Vasilisa Dragomir.
A vida da princesa era interessante, seus pais e irmão foram mortos em um acidente de carro. Ela não se especializou nos elementos tradicionais, mas sim num quinto elemento, chamado Espírito. Consegue curar pessoas e animais. Fugiu da escola por dois anos com sua melhor amiga Rose Hathaway. Parei aqui, esse nome não me trazia boas recordações... Olhei para o relógio, era meia noite, e eu estava faminta. Ainda tinha uma boa quantidade de horas até o horário de dormir.
Me levantei e fui trocar de roupa, depois de passar no refeitório e comer, eu ia treinar um pouco. Aquecer os músculos me ajudaria a dormir melhor e eu precisava ir dormir mais cedo hoje, a viagem até a Corte foi longa e amanhã eu tinha que estar de pé bem cedo por causa dos horários da princesa.
Tirei a roupa que eu estava vestindo e coloquei uma calça e mais duas blusas antes de por o conjunto de moletom de calça e casaco com capuz. Mesmo assim não seria o suficiente para me aquecer, a Corte Real ficava na Pensilvânia e fazia muito frio lá fora.
Vestida, saí do meu quarto e corri, para me aquecer um pouco também, até o refeitório. Nem preciso de dizer que eu era a única com moletom, afinal a grande maioria dos guardiões ali presentes estavam de serviço e pararam apenas para almoçar.
Senti alguns olhares em mim enquanto eu pegava a minha comida e me sentava numa mesa para comer. Fiquei surpresa ao constatar logo depois que o guardião Castile, aquele me mostrara parte do prédio um pouco mais cedo, sentou-se ao meu lado acompanhado de mais dois colegas de trabalho.
Olhei a minha volta antes de encará-los. Havia apenas uma meia dúzia de guardiãs ali, para mais de vinte guardiões. Provavelmente 90% dos guardiões da corte eram homens e isso se devia ao fato de que cada vez menos mulheres dhampirs se tornavam guardiãs.
Os dampiros surgiram da união entre Moroi e humanos, mas infelizmente dampiros não podem reproduzir uns com os outros. Com tempo foi descoberto - já que a relação com os humanos diminuiu até se tornar o que é hoje, ou seja, nula – que Dampiros e Moroi puros podiam ter filhos juntos, seus filhos nasciam comuns, metade humanos e metade vampiros. É eu sei... Nossa genética é estranha.
Com a relação entre humanos e Moroi se tornando cada vez mais escassa, os dampiros começaram a sentir necessidade de estar sempre perto dos Moroi, assim assegurariam a sobrevivência de sua raça. Dessa forma, tornou-se cada vez mais importante fazer com que os Moroi sobrevivessem, e como os Strigoi adoravam sangue Moroi, só restava uma alternativa para nós dampiros, lutar e proteger os Moroi dos Strigoi.
Foi assim que o sistema de guardiões foi criado. Por sermos metade humanos e metade vampiros, erámos muito mais resistentes. Herdávamos sentidos e reflexos vampirescos aguçados, e grande força e resistência humana. Não podíamos fazer magia como os Moroi, mas também não éramos limitados pela necessidade de sangue ou por problemas com a luz do sol.
Tudo isso indicava um equilíbrio na sobrevivência Moroi e Dhampir, mas não era algo realmente feliz, era algo apenas necessário. Moroi na maioria das vezes preferem ter crianças Moroi, por isso não se encontravam muitos romances duradouros entre Moroi e Dampiros. Mulheres Moroi dificilmente se relacionavam com homens dampiros, mas diversos jovens Moroi gostavam de ter namoricos com mulheres dampiras, apesar dos namoricos, dificilmente eles se casavam com elas, preferiam casar-se com uma mulher de sua própria espécie.
Por causa disso, muitas mulheres dampiras preferiam não se tornar guardiãs para poderem criar os seus filhos. E assim, quase todos os guardiões eram homens, eles aceitavam o fato de que não teriam filhos e deixavam a procriação a cargo de suas irmãs e primas, enquanto eles protegiam os Moroi.
Sabendo disso, não foi um espanto pra mim constatar a pouca quantidade de guardiões do sexo feminino ali presente. Após minha rápida varredura do aposento com o olhar, olhei a minha frente. O guardião Castile tinha cabelos escuros e enrolados, olhos profundamente negros também, ao seu lado estavam dois guardiões, um loiro de olhos castanhos e um moreno claro de olhos verdes muito sorridente.
_ Olá senhorita Ivaskov, espero que não se importe de nos sentarmos aqui. Não há muitos lugares vagos e... Bom, não achei adequado deixar a senhorita comer sozinha. – Castile disse quando eu olhei para ele. A verdade era que eu me importava sim, não queria bater papo e muito menos fazer amizades. Soltei um longo suspiro silencioso e dei de ombros, não ia facilitar o diálogo.
- Er... Esses são os guardiões Aylesworth – Começou ele um pouco confuso pela minha falta de diálogo, apontando para o loiro ao lado dele, que disse oi de má vontade – E este é o guardião Shevardnadze – Então o moreno sorridente, advinha? Sorriu mais ainda pra mim.
Olá... – eu murmurei olhando para o meu prato e enchendo minha boca de comida.
- Vai treinar? – perguntou Shevardnadze com curiosidade.
- Vou sim, é sempre bom treinar, manter a forma, a força e aperfeiçoar os golpes. – eu disse com minha voz monótona e séria, logo que engoli minha comida e tornei a encher a boca novamente. O guardião concordou comigo e a partir daí eles começaram a conversar sobre golpes. Quando terminei de comer e me virei para ir embora, ouvi alguns assobios e me virei.
- Então é mesmo verdade! Você possui uma marca Zvezda na nuca, o que significa que você matou um número incontável de Strigoi! – Disse Aylesworth um pouco espantado e até mesmo desacreditado, acho que ele não acreditava muito em minha reputação. Eu fiquei sem graça com aquilo e instintivamente levantei minha mão direita e a passei por cima da marca Zvezda na minha nuca.
- Sim é verdade... Com licença, preciso ir. – Respondi rapidamente num tom sério e brusco olhando-o nos olhos, antes de me virar e sair dali o mais rápido possível, antes que surgissem perguntas sobre a história da minha reputação.
O tempo lá fora castigava a minha pele, subi o capuz, apesar da boa iluminação dos prédios, ainda estava muito escuro, claro, afinal vampiros viviam na noite. Os Moroi eram sensíveis ao sol e por isso suas atividades aconteciam no horário da noite.
Lembrava claramente do guardião Castile mencionar um ginásio um pouco afastado do meu dormitório que quase ninguém usava, justamente por ser afastado, o que era perfeito pra mim. Iniciei a minha corrida até o ginásio.
Chegando lá, abri a porta com cuidado e constatei com alívio que realmente não havia ninguém por ali. Entrei e olhei ao meu redor. Era grande, espaçoso, colchões e pesos por todos os lados. Dei uma olhada nos armários, eles tinham todos os equipamentos de treinamento de luta possíveis, fiquei admirada.
Comecei a me alongar para aquecer e não distender nenhum músculo. Peguei alguns pesos e comecei a fazer exercícios numa ordem aleatória. Em poucos minutos eu já estava dando socos e chutes pelo ar. Deitei no colchão para descansar um pouco e logo comecei alguns exercícios mais relaxantes e menos bruscos. Não sabia que horas eram, mas tinha prometido que ia dormir mais cedo, então levantei-me e saí do ginásio.
Caia uma fraca garoa quando eu saí do edifício e comecei a correr de volta ao meu dormitório. Parei arfante em minha porta e abri. Meu queixo caiu quando olhei para dentro do meu quarto. O cheio de flores inundou as minhas narinas e o que eu via eram flores vermelhas para tudo que era lado.
Entrei no aposento, ainda de boca aberta, e fechei a porta atrás de mim. Flores na minha cama, flores nas mesinhas de cabeceira, flores na penteadeira, flores espalhada pelo chão e então um buquê muito bonito repousava sobre o um dos travesseiros. Me aproximei, eu não sabia o que pensar, será que aquilo era uma pegadinha?
Olhei para o buquê, havia um cartão preso nele. Estendi minha mão e o peguei. Li e quase comecei a rir, não podia ser. Aquilo só podia ser uma BRINCADEIRA.
Escrito em letras douradas no cartão branco estava a seguinte frase: Tulipas vermelhas significam amor eterno, não posso lhe jurar amor eterno, mas lhe juro devoção eterna. Seja bem vinda guardiã ruivinha.
Adrian Ivashkov